De tempos em tempos a humanidade organiza grandes eventos, festas e orgias que nos fazem aflorar estimas e paixões, nos impulsionam a melhorar ruas e quarteirões e nos avivam um espírito cotidianamente adormecido de alegria e pertencimento.
Podiamos tratar aqui tanto das olimpíadas gregas, quanto do pão e circo romano, mas atualizamos o debate para o moderno circo, cuja arena é o estádio e o pão líquido, cerveja com a qual brindamos o êxtase do gol ou na qual afogamos a angústia da derrota e o confrontamento com as inevitáveis ilusões.
Dizem por aí que o Ser humano não foi feito para o ápice, pois sabe que logo após vem seu declínio e queda. Mas tampouco o humano foi feito para viver no infortúnio. Somos esta roda da vida, eternamente a girar e devemos fazê-lo sem nos apegarmos aos picos e aos vales, mas regozijando por estar em movimento, contribuindo com o Todo.
Neste sentido, a Copa do Mundo e demais festividades são uma bênção: nos demonstram como podemos regozijar por fazer parte de um Todo e como a mobilização coletiva convergida a um ponto em comum traz transformação – basta notar ruas pintadas, casas e bairros decorados e todos com um espírito de confraternização latente.
A questão é que não há distribuição desta energia, contida e reprimida cotidianamente, bem como não se canaliza a mesma para a melhora individual-coletiva: mantem-se refém do próprio caos energético, escravo dos desejos insaciados, cego pelo reflexo múltiplo da verdade que não se quer enxergar.
É a mediocridade que nos oprime, presente horizontal e verticalmente em nossa sociedade, em todos os níveis sociais e círculos culturais, dos ignorantes aos cultos, rico ou pobre – apenas o sábio escapa de suas amarras.
Mediocridade, esta força que nos prende a nós mesmos e impede que alcemos vôos mais altos, expandindo-nos, superando-nos, confraternizando-nos.
Observar a mediocridade alheia pode reconfortar-nos. Cuidado, pois assim reforça perigosamente nossa zona de conforto. Acomodamo-nos.
É a força da totalitariedade do ego, da supremacia do eu, do individualismo ante à individuação e ao coletivo; é o consequente repudio ao diferente, ao outro, a uma possível síntese através da convergência e soma de múltiplas verdades.
O paralelo Grécia-Roma-futebol demonstra que pouco mudou do berço de nossa civilização até hoje.
Está na hora de nos tornarmos adultos e responsáveis; até para poder curtir os prazeres dionisíacos de verdade, sem temermos o jugo apolíneo posterior.
Está na hora de realizarmos a nossa síntese. É esse o jogo que precisamos ganhar. E precisamos jogá-lo cooperativamente, em rede.
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quinta-feira, 17 de junho de 2010
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